A Evolução do Diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA): Desafios e Reflexões
A década de 70 marcou o início do registro sistemático do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), com uma prevalência de 4,5 casos a cada 10.000 habitantes. No entanto, ao longo das décadas seguintes, observou-se um aumento alarmante nas taxas de diagnóstico. Em 2006, a prevalência subiu para 1 a cada 1.000, e em 23 de março de 2023, um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA indicou que uma em cada 36 crianças é diagnosticada com TEA. Diante da população brasileira de 203 milhões de habitantes, estima-se que 5,6 milhões de brasileiros estejam dentro do espectro do autismo.
Essas estatísticas impressionantes destacam não apenas a crescente prevalência do TEA, mas também a necessidade urgente de compreender e abordar eficazmente esse transtorno. As estimativas indicam uma maior incidência em pessoas do sexo masculino, com uma menina diagnosticada para cada 3,8 meninos. Entretanto, a identificação do TEA em meninas pode ser mais desafiadora devido à predominância de técnicas de diagnóstico voltadas para o sexo masculino.
A complexidade de identificação nas meninas está ligada à capacidade que desenvolvem para disfarçar dificuldades de comportamento social, imitando comportamentos de outras meninas da mesma idade. Além disso, apresentam menos comportamentos estereotipados e restritos em comparação com os meninos com TEA. As diferenças estruturais no cérebro entre os gêneros, especialmente na região responsável pela capacidade motora, contribuem para essa dificuldade de diagnóstico precoce.
A falta de estereotipias claramente demarcadas nas meninas pode dificultar a pensar no TEA. A estrutura cerebral diferenciada, aliada aos aspectos hormonais, pode influenciar a expressão do transtorno. A identificação tardia priva as meninas da oportunidade de desenvolver suas habilidades precocemente, comprometendo seu progresso.
O TEA não faz distinção de raça, etnia, condições socioeconômicas, culturais ou educacionais. Diante dessa crescente prevalência, é imperativo que todos os profissionais de saúde e educação estejam informados sobre o TEA. Situações cotidianas na prática clínica, desde o pediatra que observa um bebê com falta de contato visual durante a mamada até o dentista que nota alterações na sensibilidade oral, podem ser indicativos.
Portanto, a disseminação do conhecimento sobre o TEA, métodos de intervenção baseados em evidências científicas e a capacidade de orientar corretamente as famílias são cruciais para encurtar o caminho até o diagnóstico e a intervenção adequada. Não se espera mais anos de observação para confirmar o diagnóstico. A cada criança, seu tempo é único, e a intervenção precoce é essencial para alcançar o máximo dos potenciais e minimizar a acumulação de atrasos no desenvolvimento. É hora de abraçar a complexidade do TEA, compreender suas nuances e agir de forma assertiva para proporcionar um futuro mais promissor para todos no espectro do autismo.
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Dra. Valéria Gandolfi Geraldo
Pediatria - Neurologia Pediátrica
CRM-SP: 105.691 / RQE: 26.501-1
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