Clinica NeuroGandolfi
Vamos falar de Introdução alimentar
Atualizado: 8 de out. de 2020

⭐ Fazer a papinha principal para o seu bebê requer informação e técnicas. ➡ Muitas mamães e papais, em especial os de primeira viagem, acreditam que fazer as primeiras papinhas do seu bebê consiste em jogar alimentos no liquidificador, peneirá-los e dar ao seu pequeno. Acontece que isso não é verdade!
Não pode usar liquidificador e peneira para fazer a papa principal e de fruta do bebê!
❗ É fundamental saber que não se deve utilizar o liquidificador para bater as papinhas, pois ele tira totalmente a textura do alimento. O mesmo acontece quando tentamos peneira-las, fazendo com que os alimentos percam muitos de seus nutrientes, tornando a papinha quase nada nutritiva.
O ideal é sempre manter o acompanhamento pediátrico e nutricional, pois dependendo de cada situação, você terá orientações exclusivas.

Se tem um tema que eu gosto de conversar, certamente este tema é Introdução alimentar.
Muito provavelmente pela forma como eu vejo todo o processo em si. A introdução de novos alimentos na dieta da criança é muito mais do que simplesmente uma fase de transição de líquidos para sólidos. Neste período, é definido muito da relação futura desta criança com a comida. Definimos suas preferências, seus hábitos, seus traumas alimentares futuros, algumas de suas predisposições ambientais a doenças entre outras. É um período crítico para introdução precoce de alimentos ricos em açúcares, culturalmente muito comuns em nosso país e com consequências cada vez mais preocupantes.
Então, vamos falar disso com muito carinho e atenção!
(1) Quando começar?
Quando falamos em introdução alimentar sempre devemos nos lembrar de aleitamento materno exclusivo, pois um virá logo em seguida do outro. Desta maneira, se é recomendação universal que o aleitamento materno seja exclusivo até o sexto mês de vida, imagina-se então que o melhor momento para a introdução alimentar seja justamente ali, quando a criança completa seis meses de idade.
Mas porque seis meses, doutora? Porque é nesta idade que os bebês:
✔Já possuem capacidade neurológica de transportar alimentos semi sólidos ao fundo da boca e engoli-los.
✔Apresentam melhor controle de tronco e se sentam com mais firmeza - então será possível posicionar melhor seu filho no cadeirão para a refeição.
✔Já perderam o reflexo de protrusão de língua, que ocorre entre 4 e 6 meses de idade, sendo possível oferecer alimentos através de colher sem que coloquem tudo para fora com a língua.
✔Já possuem maturidade renal e digestiva - Antes de 4 meses os rins e o Intestino do bebê são imaturos e não possuem capacidade de metabolizar outros alimentos que não o leite materno - maior risco de sobrecarga renal e alergias alimentares.
✔Além de produção adequada de enzimas digestivas nesta fase, para melhor digestão.
Antes dos 4 meses de idade não se deve introduzir alimentos diferentes do leite humano ou fórmulas lácteas infantis para os bebês. Entre 4 e 6 meses, apesar dos bebês serem capazes de comer, os estudos não mostram nenhuma vantagem nesta introdução. Pelo contrário, está associada a desmame precoce e maior risco de obesidade na idade adulta.
Então, se o seu filho ainda não tem todos os sinais de prontidão para introdução de alimentos sólidos na dieta, converse com o pediatra e esperar um pouquinho mais. Mesmo que você vá voltar a trabalhar, é possível começar a treinar a ordenha um tempo antes do retorno ou, se preciso, introduzir fórmula láctea infantil no período em que você estiver ausente. Converse sobre as possibilidades!
(2) ASPECTOS GERAIS IMPORTANTES DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR:
O leite de vaca integral, por várias razões, entre as quais o fato de ser pobre em ferro e zinco, não deverá ser introduzido antes de 1 ano de idade. Ele é um dos grandes responsáveis pela alta incidência de anemia ferropriva em menores de 12 meses no Brasil. Antes de 1 ano de idade o aleitamento materno deve ser mantido ou, na sua impossibilidade, fórmulas lácteas infantis. Converse com o pediatra sobre a necessidade de suplementação com ferro, ok?
A composição da dieta implementada deve ser equilibrada e variada, fornecendo TODOS os tipos de nutrientes, desde a primeira papa. A oferta excessiva de carboidratos e de lipídeos predispõe a doenças crônicas como obesidade e diabetes mellitus tipo 2.
Então, desde a primeira papa principal seu filho comerá Cereais ou Tubérculos, Leguminosas, Hortaliças e Proteínas. Nada de deixar a carninha lá pra frente!
Cereal ou Tubérculo: arroz, milho, macarrão, batata, mandioca, inhame e cara.
Leguminosa: feijão, soja, ervilha, lentilhas e grão de bico.
Proteínas Animais: carne bovina, coelho, rã, ave (frango, peru, chester), suína, ovina, caprinos e equinos, ovos, peixes e vísceras.
Hortaliças: verduras e legumes.
(3) Existe Algum alimento que deva ser introduzido após 1 ano de idade?
Com exceção do mel e palmito, pelo risco de botulismo, nenhum estudo mostrou benefício em retardar a introdução de qualquer alimento para depois do primeiro ano de vida, como forma de prevenir o surgimento de alergias.
O risco do desenvolvimento de doença celíaca eleva-se com a introdução de glúten antes dos 3 meses de idade ou após os 7 meses.
A introdução de certos alimentos potencialmente alergênicos, como ovo e peixe, pode ser realizada a partir do sexto mês de vida mesmo em crianças com história familiar de alergia. Ao contrário, a introdução após 1 ano parece aumentar ainda mais os riscos de alergia.
O próprio amendoim, em estudo recente, também mostrou-se com maior potencial alergênico quando a criança não havia sido exposta no primeiro ano de vida.
(4) Frutas, qual a melhor
O mesmo raciocínio valerá para as frutas. NÃO há restrição de frutas. É importante que você ofereça para seu filho a maior variedade possível de alimentos no primeiro ano para que ele possa formar um paladar diversificado e não tendencioso, além do desenvolvimento de tolerância. Nenhuma fruta é proibida desde a introdução alimentar aos 6 meses. Sempre iremos preferir as frutas regionais e da estação por conterem menos agrotóxicos e serem mais acessíveis. Kiwi? Pode! Morango orgânico? Pode! Abacate? Pode! Abacaxi? Gente…pode tudo! E deve! Morango convencional tem muito agrotóxico e não pode até 5 anos de idade e depois seu uso deve ser com moderação e sem exagero.
(5) Qual óleo deve ser utilizado, preferencialmente?
Os ácidos graxos essenciais 3 e 6 precisam ser fornecidos pela alimentação, pois não produzidos pelo nosso corpo, sendo muito importantes para o crescimento cerebral e retiniano. Os óleos de soja e canola são ricos nestes ácidos graxos (alfalinoleico - ômega 3 e linoleico - ômega 6), por isso devem ser preferidos.
(6) Lembrar-se da Oferta de água
É importante oferecer água a partir da introdução da alimentação complementar porque os alimentos dados ao lactente apresentam maior quantidade de proteínas por grama e maior quantidade de sais, o que causa sobrecarga para os rins. Água filtrada e fervida sempre. Dá uma olhadinha na postagem sobre a oferta de água com as recomendações.
(7) E sal?
A papa principal deverá ser preparada sem sal. A excessiva ingestão de sódio por lactentes está associada com o desenvolvimento de hipertensão arterial sistêmica. Vale lembrar também que a preferência por determinados sabores (muito doce ou salgado, por exemplo) pode ser modificada pela exposição precoce a esse tipo de alimento! Então o hábito que você institui ao seu filho é MUITO importante.
(8) Posso temperar a comidinha do bebê?
Sim!
Cebola, alho e até mesmo ervas como cebolinha, salsinha, alecrim, tomilho, sálvia, orégano e coentro podem ser utilizados na hora de preparar a comida do seu bebê.
Também é permitido refogar com óleo ou azeite. Sal não deve ser adicionado até os 12 meses pois isso pode ser prejudicial ao paladar da criança.
Lembre-se que o nosso paladar de adultos é que está acostumado com comida salgada, mas o bebê não irá sentir falta. E pimenta do reino, pode? Pode sim. Só não exagere na quantidade. Aliás, não exagere na quantidade de nenhum tempero pois é importante que a criança consiga sentir o sabor dos alimentos.
Lembre-se de cortar bem os temperos para evitar engasgos. Evite temperos industrializados. A comida pode sim ser muito cheirosa e saborosa! Use a criatividade. Você já experimentou a comida do seu filho? Estava gostosa ou sem graça?
(9) Entre o sexto e o sétimo mês as frutas e a papa principal devem ser iniciadas.
A papa deve conter um cereal ou tubérculo, alimento proteico de origem animal, leguminosas e hortaliças. Desde a primeira papa, todos os grupos alimentares devem estar presentes!!
Aos seis meses: Uma porção de fruta + Papa Principal Almoço + água ao longo do dia
Sétimo Mês em diante: Duas porções de fruta + Palpa Principal Almoço + Papa Principal Jantar + água
Não Oferecer sucos no primeiro ano de vida.
(10) Composição da PAPA PRINCIPAL
Desde as primeiras papas, os alimentos devem ser separados e oferecidos individualmente, para que o bebê aprenda a desenvolver preferências e paladares diversos.
Não se deve acrescentar açúcar ou leite às papas, pois isso pode prejudicar a adaptação da criança às modificações de sabor e consistência das refeições. Em média, são necessárias de 8 a 15 exposições ao alimento para que ele seja bem aceito pela criança
.
A papa NÃO deve ser batida e nem peneirada, pois esta pratica, além de não ensinar a criança o processo da mastigação e não desenvolver os músculos orofaciais, também torna a papa menos energética do que o necessário para suprir as demandas do bebê. Além disso, as crianças que não recebem alimentos em pedaços até os 10 meses apresentam, posteriormente, maior dificuldade de aceitação de alimentos sólidos.
A introdução de alimentos novos e de consistência diferente da amamentação é um momento de grande aprendizado para o bebê e também um momento de crise. A paciência e a suavidade, assim como palavras tranquilizadoras e manifestações positivas devem ser marcantes neste processo e estar sempre presentes em quem ajuda.
A maneira como será conduzida a mudança do regime de aleitamento materno exclusivo para essa multiplicidade de opções poderá determinar, a curto, médio ou longo prazo, atitudes favoráveis ou não em relação ao hábito e ao comportamento alimentar do bebê. O respeito ao tempo de adaptação aos novos alimentos, assim como às preferências e às novas quantidades de comida, modificará a ação destes alimentos em mecanismos reguladores do apetite e da saciedade.
👇 Como você prepara as papinhas do seu filho?
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Dra. Valéria Gandolfi Geraldo
Pediatria - Neurologia Pediátrica
CRM-SP: 105.691 / RQE: 26.501-1