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Autismo: Abordagem Medicamentosa e Considerações Importantes

Atualizado: 29 de jan.



Transtorno do Espectro do Autismo (TEA): Abordagem Medicamentosa e Considerações Importantes

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta por dificuldades na comunicação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Enquanto não há medicação que reverta as características centrais do TEA, a terapia medicamentosa é frequentemente utilizada para gerenciar coocorrências de transtornos mentais e comportamentais e comportamentos interferentes.


Antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso, é fundamental considerar:

A medicação no contexto do TEA é direcionada principalmente para coocorrências de transtornos mentais e comportamentais e do desenvolvimento, bem como comportamentos interferentes que causam angústia e comprometimento significativos. Entretanto, antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso, é fundamental considerar:


1.Abordagem Comportamental: Estratégias para Intervenção e Redução de Comportamentos Interferentes

A consideração do tratamento medicamentoso surge somente após uma análise funcional aprofundada dos comportamentos interferentes, com o intuito de orientar o desenvolvimento de um Plano de Intervenção Comportamental (PIC) aplicável tanto no ambiente escolar quanto familiar. Torna-se essencial investigar se esses comportamentos desempenham um papel de comunicação, expressando angústia ou recusa, ou se têm origens sensoriais, relacionadas à esquiva/fuga, busca por estímulos tangíveis ou demanda por atenção. Nesse contexto, o Analista do Comportamento destaca-se como um agente crucial, capaz de especificar uma função fundamental nesse processo.


A avaliação profissional abrange aspectos tanto no ambiente domiciliar quanto na escola, fornecendo orientações e treinamentos estratégicos específicos para a família, cuidadores e equipe escolar. Essa abordagem visa capacitar esses indivíduos a lidar de maneira eficaz com comportamentos que possam interferir no desenvolvimento e bem-estar da criança.


2.Compreendendo e Redirecionando: A Importância da Fonoaudiologia na Comunicação

Compreender que o comportamento interferente, em diversos casos, constitui uma forma de comunicação é de extrema importância. Por meio da avaliação especializada da Fonoaudiologia, torna-se possível direcionar esses comportamentos para outras formas de expressão. A introdução da Comunicação Suplementar e Aumentativa (CSA) emerge como uma estratégia eficaz na redução desses padrões comportamentais.


3.Sintonia Sensorial: Terapia Ocupacional na Transformação do Comportamento Autista

Reconhecer a relevância dos fatores sensoriais nos comportamentos interferentes apresentados por indivíduos no espectro do autismo é um ponto crucial para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas eficazes. Dentro desse contexto, destaca-se a importância da atuação do terapeuta ocupacional, cuja abordagem se baseia na Integração Sensorial de Ayres, como um recurso relevante nesse processo de transformação.


A abordagem da Integração Sensorial de Ayres propõe uma compreensão profunda e intervenção específica nos desafios sensoriais enfrentados por indivíduos no espectro do autismo. Ao considerarmos que cada pessoa responde de forma diferente às sensações, um terapeuta ocupacional especializado desenvolve estratégias personalizadas para lidar com comportamentos interferentes, focando na promoção da adaptação ao ambiente e no controle adequado dos estímulos sensoriais.


A intervenção do terapeuta ocupacional busca não apenas minimizar os comportamentos interferentes, mas também proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida dos indivíduos. Ao trabalhar de maneira estruturada e controlada, essa abordagem visa promover uma sintonia sensorial que impacta certamente no comportamento comunicativo, contribuindo para uma maior autonomia e bem-estar dessas pessoas.


4.Além das Aparências: Investigação Profunda nos Comportamentos Interferentes no Autismo

A abordagem cuidadosa e minuciosa na análise dos comportamentos interferentes em indivíduos no espectro do autismo vai além da observação superficial. Um histórico detalhado e exames físicos criteriosos desempenham um papel crucial nesse processo, buscando identificar e compreender fatores médicos que podem estar contribuindo para ou exacerbando esses comportamentos.


A busca por condições médicas que podem estar por trás dos comportamentos interferentes inclui uma análise específica de potenciais desencadeadores, como refluxo gastroesofágico, otite média, lesões dentárias e outras fontes agudas de dor. Essa etapa é essencial para garantir uma abordagem integral no tratamento, considerando não apenas aspectos comportamentais, mas também a saúde física dos indivíduos.


A investigação vai além, explorando diversos domínios, como fatores nutricionais, imunológicos, alérgicos, neurológicos, genéticos, inflamatórios, infecciosos e gastrointestinais. Essa abordagem ampla busca identificar causas orgânicas subjacentes aos comportamentos interferentes, bem como possíveis conexões com problemas alimentares e distúrbios de sono.


A compreensão abrangente desses elementos contribui para uma intervenção mais precisa e personalizada, não apenas tratando os comportamentos interferentes, mas abordando as raízes médicas que podem estar impactando o bem-estar dos indivíduos no espectro do autismo.


5.Dormindo para o Bem-Estar: Estratégias antes da Medicação no Autismo

A gestão do sono emerge como uma peça-chave na abordagem cuidadosa e personalizada para crianças no espectro do autismo. Antes de considerar a utilização de medicamentos, é imperativo verificar a importância da qualidade e quantidade de sono, monitorando seu impacto não apenas no estado físico, mas também no bem-estar emocional e cognitivo.


A implementação de uma rotina consistente de sono se revela vital, criando um ambiente propício para o descanso adequado e minimizando fatores que possam perturbar esse equilíbrio. Estabelecer uma base sólida para a gestão do sono é essencial para promover o desenvolvimento saudável e o funcionamento otimizado das crianças no espectro do autismo.


Nesse contexto, a intervenção do terapeuta ocupacional, com uma abordagem baseada na integração sensorial de Ayres e na Análise do Comportamento Aplicada, destaca-se como uma alternativa valiosa. Esses profissionais podem oferecer estratégias especializadas para gerenciar e equilibrar o sono, considerando as necessidades específicas das crianças no espectro do autismo. Uma abordagem integrativa que visa promover o bem-estar amplo, monitorando a interconexão entre sono, desenvolvimento cognitivo e emocional.


6.Equilibrando a Era Digital: Estratégias antes da Medicação no Autismo

A gestão do tempo de exposição a telas/eletrônicos se revela uma peça-chave na busca por abordagens não medicamentosas para crianças no espectro do autismo. Antes de considerar qualquer intervenção medicamentosa, é fundamental compreender como os dispositivos digitais, com sua emissão de luz azul, podem impactar as qualidades do ciclo natural do sono, afetando a qualidade do descanso.


Estabelecer limites claros para o tempo de tela, especialmente nas horas que antecedem o sono, emerge como uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade do sono. A luz azul emitida por dispositivos eletrônicos pode interferir nos padrões naturais de sono, e a gestão de cuidados com a exposição a telas pode contribuir significativamente para um descanso mais tranquilo.


Além disso, a exposição prolongada às telas/eletrônicos pode impactar o comportamento e a atenção, fatores particularmente relevantes para crianças no espectro do autismo. Nesse contexto, a intervenção do terapeuta ocupacional, com uma abordagem centrada na integração sensorial de Ayres e na Análise do Comportamento Aplicada, oferece estratégias especializadas para gerenciar e equilibrar a gestão do tempo de exposição a telas e tecnologia. Essa abordagem integrativa busca harmonizar a interação das crianças com o mundo digital, considerando suas necessidades específicas e promovendo um desenvolvimento saudável.


Concluindo, se todos os passos anteriores já foram realizados e os gráficos de registros dos comportamentos interferentes não mostraram redução, podemos pensar em medicamentos e suas indicações.


Medicamentos e suas Indicações:
  1. Aripriprazol (acima de 6 anos) e Risperidona (acima de 5 anos): Indicados para comportamentos de agressão, autolesão, estereotipias autolesivas, irritabilidade extrema, transtornos disruptivos, transtorno do controle de impulsos e da conduta.

  2. Clonidina: Utilizada para tratar quadros de tique (acima de 5 anos) e TDAH (acima de 5 anos).

  3. Atomoxetina e Psicoestimulantes: Indicados para TDAH (acima de 6 anos).

  4. Melatonina: Recomendada para distúrbios do sono.

  5. Estabilizadores do Humor e Antidepressivos: Utilizados para tratar outros transtornos mentais e comportamentais.

  6. Canabidiol (acima de 2 anos de idade): para melhora dos comportamentos de crises de birra e explosões de raiva, agressivos (auto e ou heterolesivos), hiperatividade-impulsividade, concentração, comportamentos disruptivos, humor, ansiedade e problemas de sono. Entretanto, o uso da cannabis só deve ser considerado quando outros tratamen­tos não consigam o controle dos comportamentos interferentes.

Considerações Importantes:
  • Psicoestimulantes são contraindicados para TEA nível 2 e 3 de suporte, devendo ser utilizados com cautela em TEA nível 1 de suporte devido a possíveis efeitos adversos, como: irritabilidade, depressão, comportamento autolesivo, agressividade, problemas de sono e alimentares.

  • O treinamento de pais, cuidadores e escola é crucial no tratamento de crianças e adolescentes com comportamentos interferentes. As técnicas de modificação de comportamento são eficazes na redução desses comportamentos.

  • Benzoazepínicos não são recomendados na saúde mental da infância e adolescência devido ao risco de dependência e síndrome de abstinência.

  • Em indivíduos com antecedentes de crises epilépticas ou epilepsia, é fundamental considerar interações medicamentosas e o potencial agravamento das crises com o uso de algumas classes de drogas. A Lisdexanfetamina é contraindicada nos casos de epilepsia.

  • Evitar o uso de antipsicóticos, como risperidona e aripriprazol, antes de considerar o tempo de exposição a telas/tecnologia como adequado para a idade é uma abordagem mais apropriada. Os antipsicóticos, ao agirem na redução dos níveis de dopamina, podem entrar em conflito com o aumento desses níveis causado pela exposição a telas e tecnologia. Essa contradição pode comprometer a eficácia no controle dos comportamentos-alvo, e, adicionalmente, há o risco de efeitos colaterais indesejados. Portanto, é crucial estabelecer um equilíbrio entre a intervenção medicamentosa e a gestão do ambiente digital. Antes de iniciar qualquer tratamento com antipsicóticos, é recomendável avaliar e ajustar o tempo de exposição à tecnologia, uma vez que essa variável pode influenciar significativamente a resposta do organismo. Essa abordagem integrada, considerando tanto o uso de medicamentos quanto as práticas ambientais, pode maximizar os benefícios terapêuticos e minimizar os riscos potenciais associados ao tratamento. A coordenação entre médicos, terapeutas ocupacionais e analistas do comportamento pode ser valiosa nesse processo, garantindo uma abordagem abrangente e personalizada para a criança no espectro do autismo.

Conclusão:

Em resumo, a abordagem medicamentosa no TEA visa principalmente o gerenciamento de coocorrências e comportamentos interferentes, sendo essencial uma avaliação abrangente para garantir a segurança e eficácia do tratamento. O envolvimento multidisciplinar, incluindo neurologista pediátrico, medicina integrativa e funcional, Terapeuta Ocupacional com abordagem em Integração Sensorial de Ayres, Fonoaudiologia e Analista do Comportamento, é fundamental para um cuidado personalizado e bem-sucedido.



Dra. Valéria Gandolfi Geraldo

Pediatria - Neurologia Pediátrica

CRM-SP 105.691 / RQE; 26.501-1


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