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Epilepsia: Mitos e Verdades



Historicamente, a epilepsia traz uma bagagem de preconceitos e estigmas que envolvem questões sociais e psicológicas que vão além da medicina. Por isso, é preciso desmitificar essa enfermidade que atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo, e cerca de 3 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).


A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes e geram as crises epilépticas. As crises podem se manifestar com alterações da consciência ou eventos motores, sensitivos/sensoriais, autonômicos (por exemplo: suor excessivo, queda de pressão) ou psíquicos involuntários percebidos pelo paciente ou por outra pessoa.


Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 5% da população terá ao menos uma crise epilética na vida. Sendo que, no Brasil, grande parte dos pacientes ainda não tem um controle adequado das crises, tanto pelo despreparo dos profissionais da área da saúde como por desinformação da população.


A seguir, esclareço alguns mitos e verdades ao redor da doença:


MITOS

A epilepsia é uma doença neurológica não contagiosa. Portanto, qualquer contato com alguém que tenha epilepsia não transmite a doença.


Durante uma crise epiléptica o ideal é colocar o paciente deitado com a cabeça de lado para facilitar a saída de possíveis secreções e evitar a aspiração de vômito. A cabeça deverá ser apoiada sobre uma superfície confortável. É importante não introduzir qualquer objeto na boca, não tentar interromper os movimentos dos membros e não oferecer nada para a pessoa ingerir.


A crise convulsiva é uma crise epiléptica tônico clônica generalizada, na qual existe abalo motor. A convulsão é um tipo de crise epiléptica.


Para considerar que uma pessoa tem epilepsia, ela deverá ter duas ou mais crises epilépticas não provocadas em um período maior do que 24 horas. Ter várias crises epilépticas não provocadas nas mesmas 24 horas também não é considerado epilepsia. Portanto, a pessoa poderá ter uma crise epiléptica (convulsiva ou não) e não ter o diagnóstico de epilepsia.


Crise febril (ou convulsão febril), mesmo recorrente, NÃO é epilepsia.


Crise epiléptica circunstâncial ou sintomática (crise epiléptica desencadeada por febre, medicamentos, traumas, hiponatremia, hipoglicemia, infecções ou outros motivos), mesmo recorrentes, NÃO é epilepsia.


A epilepsia é uma doença neurológica, não um transtorno mental.


Segundo a Associação Brasileira de Educação de Trânsito, o paciente com epilepsia que se encontra em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica – dado que deve ser apresentado através de um relatório médico.


Caso o paciente esteja em retirada da medicação antiepiléptica, ele poderá dirigir se estiver há no mínimo dois anos sem crises epilépticas e ficar por mais seis meses sem medicação e sem crise.


Já a direção de motocicletas e motos é proibida.


Esse é um erro comum e perigoso.


A língua não enrola e o paciente não é capaz de engoli-la.


Não se deve em hipótese alguma introduzir os dedos dentro da boca do paciente, pelo risco de lesões graves nos dedos, e tampouco introduzir objetos rígidos, pelo risco de lesões dentárias e gengivais graves.


O correto é virar o paciente de lado, levantar a cabeça a 45 graus, protegê-lo, deixar que a saliva escorra e aguardar calmamente que a crise epiléptica acabe, o que ocorre, geralmente, antes de 3 minutos. Se demorar mais, chame o SAMU (ligue 190).


Sempre chame o resgate médico para levar uma pessoa apresentando crise epiléptica ao hospital! NÃO a leve sozinho!


A convulsão é apenas um tipo de crise epilética. É a crise epiléptica tônico clônica generalizada.

É aquele tipo mais intenso, no qual a pessoa perde os sentidos e se debate, podendo morder a língua e urinar na roupa.


Existem outros tipos de crises epilépticas, como crise de ausência, parada comportamental , tônica, mioclônica, atônica e focal perceptiva ou disperceptiva (crises focais caracterizadas por formigamentos ou contrações restritas a alguns grupos musculares).


Se ocorrerem de maneira recorrente, duas ou mais crises epilepticas não provocadas por um período maior do que 24 horas, configuram epilepsia. Ter várias crises epilépticas não provocadas nas mesmas 24 horas não é considerado epilepsia.


Existe a possibilidade de cura em alguns casos, por exemplo:

  1. Se o paciente ficar muito tempo sem ter crises epilépticas (mínimo de dois anos) e a medicação for descontinuada (redução lenta de 3 a 6 meses) sem recorrências.

  2. Com um procedimento cirúrgico que retira a causa das crises.

  3. Pelo próprio amadurecimento do cérebro em alguns tipos de epilepsias infantis.


A epilepsia não é uma doença contagiosa.


O contato com a saliva de uma pessoa com epilepsia de maneira alguma torna alguém epiléptico.


No entanto, a saliva pode transmitir (mesmo que raramente) algumas doenças infecto-contagiosas. Por isso, não é recomendado o contato desnecessário com a saliva de um desconhecido sem mecanismos de proteção.


As medicações devem ser mantidas nos horários acertados pelo médico. Não se deve dar remédio extra durante ou logo após a crise epiléptica, nem passar água fria e muito menos álcool no rosto do paciente, pois são medidas absolutamente sem efeito.


A maioria dos pacientes com epilepsia tem inteligência absolutamente normal, alguns até acima da média.


Uma pequena parcela apresenta patologias que causam dificuldade intelectual associada às crises epilépticas.


VERDADES

Sim, é possível. A manifestação clínica da crise epiléptica relaciona-se com a área do cérebro de onde a crise é gerada.


As crises epilépticas APRESENTAM-SE de diferentes maneiras: podem ser rápidas ou prolongadas; com ou sem alteração da consciência (disperceptivas ou perceptivas); com fenômeno motor, sensitivo ou sensorial; únicas ou em salvas; exclusivamente em vigília ou durante o sono.


O estresse é um dos fatores que pode deflagrar uma crise epiléptica.


Cerca de 70% dos casos de epilepsia são de fácil controle após o uso do medicamento adequado.


Os 30% restantes são classificados como epilepsias refratárias de difícil controle. Nesses casos, pode ser necessário dieta cetogênica, canabidiol, estimulador de nervo vago (VNS) ou tratamentos cirúrgicos.


A epilepsia acomete desde o período neonatal até o idoso, e pode ter início em qualquer período da vida.


Epiléptico, desde que as crises epilépticas estejam controladas, podem e devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir.


O uso regular de uma ou duas medicações adequadas é capaz de controlar adequadamente as crises epilépticas em 70% dos casos. Muitas dessas medicações são distribuídas gratuitamente na rede pública.


Pacientes com crises epilépticas bem controladas podem e devem trabalhar, praticar esportes, casar, ter filhos, etc. Até mesmo dirigir o paciente pode após 2 anos de controle e bom seguimento clínico.


Crianças e adolescentes que experimentam crises epilépticas quando jogam videogames apresentam um distúrbio epileptiforme fotossensível demonstrável no eletroencefalograma (EEG) durante a estimulação fótica intermitente.


Dois terços têm epilepsia generalizada primária (epilepsia tônico-clônica generalizada, epilepsia ausência e epilepsia mioclônica juvenil), e o resto apresenta epilepsias focais, em geral, epilepsia occipital benigna.

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Dra. Valéria Gandolfi Geraldo

Pediatria - Neurologia Pediátrica

CRM-SP: 105.691 / RQE: 26.501-1

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